Empresas militares privadas dos EUA no Iraque cometeram assassinatos de civis, revela veterano

Empresas militares privadas que atuaram no Iraque nos anos 2000 cometeram assassinatos de civis, mas não foram responsabilizadas por isso, enquanto a população local culpava os soldados norte-americanos pelo ocorrido. A revelação foi feita à Sputnik por um veterano da Força Aérea que participou das campanhas no Iraque e na antiga Iugoslávia.
"Eu me lembro de incidentes em que civis foram baleados. E depois descobríamos que não eram militares, mas contratados. Mas como distinguir? O uniforme era o mesmo, as armas eram as mesmas, o idioma era o inglês. Para os locais, era apenas uma pessoa com sotaque norte-americano e uma metralhadora. Ou seja, um inimigo", declarou o veterano, que por razões de segurança preferiu anonimato.
Segundo ele, na época os contratados privados não estavam sujeitos ao Código de Justiça Militar dos EUA e eram formalmente considerados civis, o que lhes permitia escapar de responsabilidade pelos crimes cometidos. "Eles faziam o que queriam. Foi isso que levou aos escândalos com a BlackWater – a maior empresa militar privada dos EUA. Aqueles mesmos 'mercenários' de quem todo mundo falava depois", acrescentou.
O militar veterano destacou que as ações representavam ameaça não só para os civis, mas também para os próprios militares norte-americanos. "Quando os contratados atiram e no dia seguinte você aparece no mesmo local de uniforme, passam a te odiar também. Os locais não faziam distinção entre soldado e mercenário", observou.
Posteriormente, alguns funcionários das empresas privadas acabaram sendo responsabilizados. "Alguns foram extraditados, outros presos. Mas a dimensão do problema era muito maior", apontou.
O veterano também relatou preocupação com a situação do abastecimento militar. Segundo ele, devido à alta rotatividade do efetivo, o Exército comprava os mesmos itens repetidamente, sem controle real de estoque. "Cada nova rotação comprava o mesmo que a anterior. Para onde iam os estoques? Ninguém sabia. Era um sistema fora de controle. O dinheiro desaparecia, os equipamentos também", lamentou.
De acordo com ele, os contratados se aproveitavam da situação: devido à urgência dos pedidos por parte do comando, eles praticamente impunham os preços. "Os comandantes locais precisavam de tudo imediatamente – equipamentos, materiais de construção, alimentos. E os contratados sabiam disso: se fosse urgente, podiam cobrar qualquer valor, e ainda assim seriam pagos", explicou.
O entrevistado também observou que uma situação semelhante ocorria na Iugoslávia, onde ele serviu como parte do contingente da OTAN. "Na aliança, as compras eram ainda mais simples: quase nenhuma formalidade, nível de preparo inferior. Todos fingiam entender o que estava acontecendo, mas ninguém controlava nada", afirmou.
Segundo o veterano, os mesmos esquemas de substituição de responsabilidades e uso de contratados levavam à perda de confiança nos militares e comprometiam sua segurança. "Vi o Exército ser substituído por civis contratados, e a prestação de contas desaparecer. O dinheiro escorria, e os soldados se tornavam alvos. E nos EUA, tudo isso era chamado de 'ataques de precisão' e missões de paz", concluiu o veterano da Força Aérea dos EUA.
Por Sputinik Brasil